Impacto das mudanças climáticas na saúde é reconhecido por 151 países

Crise de saúde causada pelas mudanças climáticas

O impacto das mudanças climáticas na saúde foi discutido pela primeira vez na cúpula da COP28*, que aconteceu em Dubai (NOV-DEZ/23).

A COP28 aprovou um roteiro para a transição dos combustíveis fósseis – também a primeira vez que isso ocorre neste tipo de conferência. No entanto, o acordo ainda não atende aos repetidos apelos por uma eliminação progressiva do petróleo, carvão e gás.

“A crise climática é uma crise de saúde, mas durante muito tempo a saúde foi uma nota de rodapé nos debates sobre o clima”, afirmou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

* COP (Conference of the Parties) da UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) significa Conferência das Partes, onde as “partes” são os países que assinaram o acordo climático original da ONU em 1992. 

 

 

Urgência de respostas às mudanças climáticas centradas na saúde

As mudanças climáticas são consideradas uma crise sanitária que causa danos diretos e indiretos na saúde. O mais recente relatório do Painel IPCC e o Relatório Global do Lancet Countdown em Saúde e Mudanças Climáticas de 2023 abordam ameaças crescentes à saúde global, como:

  • maior suscetibilidade a doenças relacionadas ao calor e outros eventos climáticos extremos, com aumento da morbimortalidade;
  • aumento de doenças infecciosas, insegurança alimentar e insegurança hídrica exacerbada;
  • impactos na saúde mental.

Esses efeitos elevam os custos de saúde e sobrecarregam os sistemas de saúde. Apesar dos riscos crescentes, os esforços de adaptação são considerados insuficientes, especialmente em países de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). A transição para energias renováveis permanece lenta, com 1,8 milhão de mortes atribuídas à poluição do ar derivada da queima de combustíveis fósseis em 2020.

Nas áreas urbanas, as mudanças climáticas têm causado impactos prejudiciais na saúde humana, nos meios de subsistência e nas infraestruturas essenciais, incluindo sistemas de transporte, água, saneamento e energia. Isso resulta em perdas econômicas, interrupções de serviços e impactos negativos no bem-estar, afetando principalmente as populações urbanas economicamente marginalizadas.

A presidência da COP28 reconhece que a redução dos impactos das alterações climáticas na saúde exigirá ações de toda a sociedade, incluindo ações gradativas e em grande escala para descarbonizar os sistemas energéticos e reduzir as emissões em pelo menos 43% nos próximos sete anos para manter a meta de aquecimento até 1,5°C.

 

Mudanças climáticas e saúde: custo financeiro altíssimo

  • A estimativa da OMS é que o custo financeiro das crises sanitárias atribuídas às alterações climáticas atinja entre US$ 2 e 4 bilhões anuais até 2030, exacerbando a pobreza, especialmente em regiões desfavorecidas.
  • O Banco Mundial prevê que quase 40% da pobreza relacionada ao clima resultará dos impactos diretos das mudanças climáticas na saúde, afetando a produtividade, o rendimento e as despesas.
  • Cada 1 dólar investido na construção da resiliência climática produz um benefício médio de 4 dólares (Banco Mundial)

 

Efeitos das mudanças climáticas na saúde

Os efeitos das mudanças climáticas na saúde são diversos. Abaixo são listados alguns deles, com dados importantes.

250 mil mortes adicionais por ano

Entre 2023 e 2050, apenas devido à subnutrição, malária, diarreia e estresse térmico, serão 250 mil mortes a mais por ano. Nas regiões vulneráveis, como países de baixa renda e pequenos estados insulares em desenvolvimento, a taxa de mortalidade causada por fenômenos meteorológicos extremos na última década foi 15 vezes superior à das regiões menos vulneráveis. (OMS)

Redução na capacidade de fornecer cobertura universal de saúde

O aquecimento médio do planeta em 1,1 ºC já impacta a força de trabalho e as infraestruturas de saúde (OMS). Todos os aspectos da saúde são afetados pelas alterações climáticas – incluindo ar limpo, água, solo, sistemas alimentares e meios de subsistência -, com cada vez mais mortes e doenças decorrentes de fenômenos meteorológicos extremos, perturbação dos sistemas alimentares, aumento das zoonoses e da transmissão de patógenos por alimentos, água e vetores, além de problemas de saúde mental, como ansiedade, estresse pós-traumático e perturbações a longo prazo devido a fatores como deslocação e divisão social.

Insegurança alimentar

Mais atrasos no combate às alterações climáticas aumentarão os riscos para a saúde, minarão décadas de melhorias na saúde global e violarão os compromissos coletivos dos países de garantir o direito humano à saúde para todos, dizem os especialistas. Em 2020, o número de pessoas que sofreram insegurança alimentar aumentou em 98 milhões de indivíduos em comparação com a média de 1981 a 2010.

Ondas de calor extremo

Mortes e complicações em quadros de saúde também são atribuídas ao aumento do calor generalizado e ao fenômeno das ondas de calor. Segundo uma pesquisa da Universidade de Berna, na Suíça, 37% das mortes causadas pelo calor nos últimos 30 anos estão relacionadas com as alterações climáticas induzidas pelas atividades humanas. As mortes ligadas ao calor entre pessoas com mais de 65 anos aumentaram 70% em duas décadas. Segundo um estudo global da revista científica The Lancet, as mortes de crianças e idosos relacionadas ao calor aumentaram 68% no período entre 2017 e 2021, em comparação com 2000-2004.

A exposição ao calor extremo piora doenças cardiovasculares e respiratórias e causa insolação, complicações na gravidez, piora dos padrões de sono e da saúde mental, além do aumento de mortalidade relacionada a lesões. Segundo outro estudo global da mesma revista, as mudanças climáticas devem causar um aumento de 4,7 vezes nas mortes relacionadas ao calor até 2050, caso os governos não façam nada para deter o aquecimento global. Houve em média 86 dias de altas temperaturas que ameaçaram a saúde entre 2018 e 2022, e as mudanças climáticas causadas pela humanidade aumentaram a probabilidade de ocorrência de mais de 60% desses dias, mostrou a análise.

Para se proteger, é necessário se manter hidratado. A falta de água no organismo pode causar tonturas, desmaios, cansaço, palpitações, mal-estar e, em casos extremos, a morte. Outras formas de proteção incluem o uso de protetor solar, roupas leves, boné ou chapéu e a busca por sombra quando em ambientes abertos. “Se as pessoas não encontrarem uma maneira de se refrescar em poucas horas, isso pode levar à exaustão pelo calor, insolação e tensão no sistema cardiovascular, o que pode levar a ataques cardíacos em pessoas vulneráveis”, diz W. Larry Kenney, professor de fisiologia e cinesiologia da Penn State,e um dos autores de estudo que avaliou quais partes da Terra podem virar inabitáveis se temperaturas subirem 1 ºC ou mais.

As ondas de calor também têm afetado atividades sociais e econômicas em alguns países. No início de agosto de 2023, o Irã decretou dois dias de feriado, fechando escritórios, bancos e a bolsa de valores, em resposta ao calor extremo. Desde 2016, países do Oriente Médio estão registrando repetidamente temperaturas de 50ºC ou mais. Índia, México e Filipinas suspenderam ou alteraram o horário das aulas para que as crianças pudessem lidar melhor com o calor. Segundo o relatório da revista The Lancet, a perda de capacidade de trabalho relacionada à exposição ao calor resultou em perdas potenciais médias de rendimento equivalentes a US$863 bilhões em 2022, sendo os trabalhadores agrícolas os mais afetados.

 

O COP28 realmente será um marco para a saúde?

Os críticos das COP anteriores acusam os encontros de greenwashing: os países e as empresas promovem as suas credenciais climáticas mas não realizam de fato as mudanças necessárias.
 
Por outro lado, à medida que os líderes mundiais se reúnem, esses eventos oferecem potencial para acordos globais que vão além das medidas nacionais. Por exemplo, o limite de aquecimento de 1,5º C, acordado em Paris na COP21, impulsionou uma “ação climática quase universal”, segundo a ONU.
 
 

Declaração da COP28 sobre Clima e Saúde

151 países assinam a Declaração sobre Clima e Saúde para acelerar ações que protejam as pessoas dos crescentes impactos climáticos. O início da Declaração menciona:
“Nós, na ocasião do primeiro Dia da Saúde na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), expressamos nossa profunda preocupação com os impactos negativos das mudanças climáticas na saúde. Enfatizamos a importância de abordar as interações entre mudanças climáticas e a saúde e bem-estar humanos no contexto da UNFCCC e do Acordo de Paris, como os principais fóruns internacionais e intergovernamentais para a resposta global às mudanças climáticas.
Reconhecemos a urgência de agir em relação às mudanças climáticas e destacamos os benefícios para a saúde provenientes de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa, incluindo transições justas, menor poluição do ar, mobilidade ativa e mudanças para dietas saudáveis e sustentáveis.
 
Neste ano do primeiro Balanço Global, e dados os aprendizados da pandemia de COVID-19, que tensionou todos os sistemas de saúde e ampliou ainda mais as desigualdades e vulnerabilidades dentro e entre países, regiões e populações, estamos comprometidos com o avanço do desenvolvimento resiliente ao clima, o fortalecimento dos sistemas de saúde e a construção de comunidades resilientes e prósperas, em benefício das gerações presentes e futuras.”
 

Leia o documento completo, em inglês:
COP28 Declaration on Climate and Health – Annex

 
Fontes:
Investir na saúde é um aspecto fundamental para a resiliência climática, especialmente pensando em prevenção. É para ajudar a transformar este cenário de SAÚDE LOCAL e GLOBAL que o Medicina em Alerta existe.

 

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